Os bebês reagem conforme o seu entorno. São sujeitos ativos também. É necessário que o professor consiga construir um contexto de aprendizagem para as crianças de tal modo que possa dar presença, muito mais que estar apenas presente. Estamos falando de um professor com alto grau de consciência sobre o seu fazer pedagógico, pois nas palavras e nos gestos de um adulto está a cultura.
Para construir os sentidos sobre o seu ser e estar no mundo, as crianças vão prestando atenção nas diferentes informações do mundo exterior. Cada interação, cada objeto que explora, vai deixando rastros que, aos poucos, vai tomando forma e ganhando sentido pelas crianças. Por isso, vários campos científicos concordam que para os bebês, dada a sua grande abertura em compreender o mundo a sua volta, basta viver e estar em relação com o mundo para aprender.
Assim, o ritmo da vida cotidiana tem grande importância. O modo como as crianças vivem suas atividades cotidianas são de grande valor pela sua repetitividade e pela sua abertura ao novo. Na repetição, as crianças vivem o prazer do já sabido e, na abertura ao novo, aprendem a colocar em marcha os recursos cognitivos, emocionais, afetivos, motores, sociais que vão construindo.
A linguagem, como um produto da cultura e uma característica do ser humano, constrói-se nas experiências diárias em que o adulto narra o mundo à criança e a criança interpela o mundo para dizer ao mundo o que quer.
A organização do espaço e dos materiais
Uma das formas do professor intervir é o modo como ele planeja e organiza os espaços e os materiais. A organização dos espaços deve ser no sentido de garantir que os bebês possam criar suas próprias atividades, partindo especialmente do modo como vão explorando e percebendo seu corpo no espaço. Diferente do que se pode imaginar, não necessariamente precisa ser oferecido um espaço exaustivo em cores, sons e materiais, mas, a seleção dos materiais, em si, pode possuir uma riqueza de informações pela variedade da fisicalidade destes. É importante destacar que um dos modos das crianças participarem de uma determinada cultura é a partir da apropriação que vão fazendo em relação aos objetos desta cultura.
O tempo. Definitivamente, o tempo dos bebês não cabe nos ponteiros do relógio. Essa medida de tempo que convencionamos pode ser uma violência ao tempo dos bebês. Encaixá-los a rotinas pré-estabelecidas é uma das formas de iniciação ao tempo do capital, como já advertia Felix Guatarri, no livro Guarderias: experiencias, descubrimientos, perspectivas, de Liane Mozère e Geneviève Aubert, em 1985. É preciso dar tempo para os bebês serem bebês. Mais: é preciso esperança de esperar o tempo dos bebês.
Este livro é um presente para todo professor e pesquisador que tem interesse em saber mais sobre educar bebês em espaços coletivos. Além de nos oferecer uma lente de compreensão sobre o humano e a pedagogia, a lente da Teoria Histórico Cultural, mais além, oferece-nos, com muita gentileza, a possibilidade de percorrer por temas caros para aqueles que estão próximos dos bebês e das creches.
(Paulo Fochi)