Na Fazendo Arte o brincar move todas as vivências da criança e acontece em espaços afetivos e com tempos estendidos proporcionando liberdade e respeito ao seu modo de ser e pensar. Enquanto brinca se constitui como sujeito ativo e potente que constrói hipóteses, enfrenta contradições, pensa, experimenta, investiga superando desafios e fazendo descobertas. Enquanto brinca, se movimenta e põe em jogo suas vontades, sentimentos, lida com as frustrações, medos, alegrias, desempenhando papéis que vão dando sentido a seu processo de socialização, e assim, avançando na compreensão do mundo, do outro e de si mesma.
“Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, ovo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra.”
Infância tem cor?
Infância tem cheiro?
Infância tem sabor?
Na Fazendo Arte tem, sim senhor!
Tem amarelo do maracujá
Laranja da pitanga
E para quem duvida
Anda, anda que encontra.
Hum! Tem cheiro bom de comida
Que enche nossa barriga!
Tem som do sabiá
Que voa ligeirinho
Da maritaca faceira
No alto da goiabeira.
Tem som de criança
Que fala
Que chora
Que grita
Que canta e encanta
E às vezes “desanda”.
Tem gosto de amora
De jabuticaba também
De cor mais pretinha
E bem redondinha.
E o cacho de uva, quem viu?
Pendurado no alto, bem alto…
Enfeitando o caminho de muitos passinhos.
Sabor de ameixa
Será que lá tem?
E de água, também?
Tem cheiro de pum
De fralda molhada
De cor de sujeira
De tanta brincadeira!
Infância da cor da alegria,
Infância de cheiro de vida
Infância do gosto gostoso
Da vontade de aprender,
Crescer e ser feliz!”
— Silvana Mincovschi Ussami
A maioria das crianças desse grupinho já estão começando a andar e, com isso, fizeram uma nova descoberta: o mundo está ao seu alcance. Constantes explorações e descobertas passam então a fazer parte do dia-a-dia desses pequenos, que se mostram incansáveis.
Colocam os dedinhos em todas as saliências e buraquinhos que encontram, abrem e fecham todas as portinhas que estão ao seu alcance, querem subir nas mesas e cadeiras, escalar estantes, etc.
Com tanta energia e ainda sem a noção de perigo, necessitam de um adulto sempre por perto para acompanhá-los em cada novo desafio. São instáveis emocionalmente, impulsivos, curiosos, enfim, apresentam um funcionamento muito peculiar, muitas vezes surpreendendo os adultos à sua volta.
Andando de um lado para o outro e felizes com a grande conquista que é se deslocar, e sem o auxílio do adulto, tanta energia precisa ser canalizada de um modo adequado e saudável para o bom desenvolvimento dessas crianças que aprendem brincando. Assim, todo nosso quintal começa a ser explorado intensamente: tanque de areia, praça da jabuticabeira, gramado, quadra e o ateliê de artes, onde as crianças passarão a desenvolver atividades que estimulem a motricidade fina das mãos.
A linguagem é outro aspecto do desenvolvimento infantil que está se desenvolvendo, sendo constantemente estimulada e valorizada. Esta linguagem não se desenvolve espontaneamente, mas acontece num contexto em que a fala está presente de maneira significativa. Os educadores conversam com as crianças numa linguagem correta e rica, dando-lhes espaço e oportunidades para que se expressem ao mesmo tempo em que conversam e estabelecem gradativamente os combinados dentro de uma rotina coletiva. Tudo é realizado em um clima de bastante flexibilidade, garantindo que as necessidades individuais de sono e o ritmo de cada criança sejam respeitados.
Chupetas, paninhos, travesseirinhos, ursinhos e outros objetos de apego são frequentes e acompanham as crianças que nessa fase do desenvolvimento durante a fase da adaptação e posteriormente durante o sono.
A inserção num grupo maior de crianças com necessidades diferentes das suas acontecerá gradativamente, na medida em que forem amadurecendo e adaptando-se a um ambiente social diferente do aconchego do lar. As reações físicas e birras frequentes frente às situações de frustração são manifestações esperadas nessa fase, uma vez que encontram-se bastante egocentradas. Apesar de bastante pequenas, as crianças desde cedo são estimuladas a expressar o que querem, sentem e pensam, utilizando o diálogo como recurso para resolver as disputas por brinquedos, espaços e, principalmente, a atenção dos adultos.
Independentemente de terem uma linguagem estabelecida, precisam estar em contato com esse modelo de atitude desde muito cedo. Todo esse processo de acompanhamento da criança acontecerá gradativamente em parceria permanente e ativa da família, trocando informações com a escola e vice-versa. Desse modo, as atenções e cuidados aos pequenos terão o mesmo direcionamento, garantindo estabilidade e fazendo com que a criança possa compreender e interpretar os novos estímulos e solicitações com mais segurança.
Neste grupo, a rotina diária e semanal já se organiza de modo mais estável, com bastante flexibilidade e tendo como atividades as rodas de conversas, rodas de histórias, parque de areia, quadra, atividades corporais, plásticas e musicais, jogos de encaixe e construção (legos, ligues e tocos), desenho e a brincadeira de faz-de-conta, que é o principal eixo do trabalho com essa turminha.
As crianças se agrupam espontaneamente, compartilhando espaços e brincadeiras, apesar de em muitos momentos ainda preferirem brincar sozinhas.
A maioria das crianças já utilizam a linguagem verbal como principal meio de comunicação, intercalando-a com gestos e a linguagem corporal como um todo. Participam de uma rotina coletiva e também são incentivadas a realizar as atividades cotidianas de forma cada vez mais independente, como por exemplo, ajudando a guardar os brinquedos, comendo sozinhas, lavando suas mãozinhas, etc.
Aos poucos estabelecemos os combinados, que são nossas regras de convivência dentro do grupo. Nessa fase, as crianças ainda mostram-se bastante egocentradas e utilizam muitas vezes das reações físicas como meio de resolver as situações de frustração. Nesses casos, o educador interfere, buscando estimular as crianças a expressarem aquilo que querem, pensam e sentem através da linguagem e pelo diálogo, retomando os combinados que organizam o funcionamento do grupo.
O clima de confiança e afetividade criado pelas educadoras é fundamental para que a criança possa agir com iniciativa própria e segurança com relação a si mesma e aos adultos.
As crianças já começam a se agrupar espontaneamente, compartilhando espaços e brincadeiras. A interação entre as crianças se intensifica e as brincadeiras se tornam mais ricas com os progressos do processo de representação.
Esses mesmos progressos possibilitam a atribuição de significados aos trabalhos realizados, mesmo que ainda não reproduzam a imagem do real, como nos desenhos e construções com os objetos.
A rotina diária já começa a se organizar de modo mais estável, com as seguintes atividades: roda de conversa, gramado, parque de areia, brincadeira de faz de conta, construção (legos, ligues, tocos), roda de história e de música, desenho e atividades plásticas (colagem, pintura, massinha, etc.).
As crianças também são mais incentivadas a realizar as atividades cotidianas de forma independente, sempre com a mediação do adulto. São convidadas a guardar seus pertences e brinquedos, comer sozinhas, lavar as mãozinhas antes de comer o lanche e depois que forem ao banheiro, entre outras. O clima de confiança e afetividade criado pelas educadoras é fundamental para que a criança possa agir com iniciativa própria e segurança com relação a si mesma e aos adultos. As situações de conflito ainda acontecem com certa frequência uma vez que o egocentrismo continua permeando o funcionamento afetivo das crianças nessa fase de desenvolvimento.
Utilizamos o diálogo como recurso para a resolução das disputas, conversando com as crianças e perguntando o que aconteceu, estimulando, ao mesmo tempo, que conversem entre si expondo suas ideias e os sentimentos envolvidos na situação. O objetivo dessa interferência do adulto é que as crianças substituam, gradativamente, as reações físicas pelas verbais. Por volta dos três anos, a criança já domina um número bem maior de palavras e, por isso, a narrativa das histórias infantis torna-se alvo de grande interesse, com enredos breves e simples e que explorem a sonoridade das palavras.
Assim, no decorrer desse processo de formação da criança como leitora, ela começa a demonstrar espontaneamente interesse e curiosidade sobre a língua escrita, iniciando essa exploração através do próprio nome.
As crianças desses grupos apresentam um aprimoramento da linguagem oral, expressando-se com mais clareza. Ao mesmo tempo, observa-se uma capacidade maior de simbolização nas brincadeiras de faz-de-conta e construção, pois há maior correspondência com o real.
A rotina estrutura-se cada vez mais e surge um interesse cada vez maior em relação ao mundo da leitura e escrita bem como pelo universo dos números.
Sistematizamos o trabalho com nome próprio, que servirá como referência para o trabalho posterior com as hipóteses relacionadas à escrita de outras palavras. Acompanhando e estimulando esse interesse das crianças, desenvolvemos diversas atividades como bingo de letras e números, construção de murais com rótulos e embalagens, calendário, rodas com poesias, jornais, receitas, etc., com o objetivo de fornecer informações sobre esse universo gráfico e numérico, ao mesmo tempo em que as crianças se apropriam do valor social da escrita pelo contato com os diversos portadores de textos oferecidos.
Com o desenvolvimento do pensamento lógico, as crianças apresentam uma capacidade maior de compreender regras e, assim, outros jogos de mesa ou de quadra são acrescentados à rotina, possibilitando um trabalho mais intenso em relação à construção da autonomia e do pensamento matemático.
O espaço para as brincadeiras simbólicas de faz-de-conta e construção (legos, ligues) continua preservado, pois é fundamental para a criança elaborar suas vivências, expressar-se livremente, socializar-se e estruturar sua capacidade representativa de modo geral.
A nossa prioridade é que a criança mantenha a vontade de aprender, faça uso significativo da própria língua, expressando-se de forma clara e encontrando na leitura uma fonte de saber e prazer.
A busca do conhecimento parte da escuta do educador acerca dos interesses demonstrados pela criança ou pelo grupo, cabendo a ele , a tarefa de proporcionar oportunidades para que essa curiosidade se transforme em relações de aprendizado.
O trabalho com projetos é desenvolvido a partir desses interesses, provocando a investigação, a pesquisa, a curiosidade com perguntas e discussões. A não obrigatoriedade da alfabetização e do letramento matemático não significa que não devam ser considerados. O importante é permitir que cada criança, a seu modo, e na medida em que se desenvolve, construa hipóteses acerca de todas as áreas de conhecimento – escrita, matemática, corporal, artística, musical – para que a aprendizagem seja significativa.
Lígia (6 anos) interrompe seu desenho, a fim de contar para a professora que havia feito uma pergunta muito, mas muito difícil para o pai:
– Mas era tão difícil assim? Que pergunta você fez?
– Eu perguntei: por que o Sol não cai? Ele até falou que era mesmo muito difícil e que não sabia.
– E você sabe a resposta?
– Claro que sei! O Sol não cai porque as nuvens seguram ele!
– Ah! Quando fica de noite, não se veem direito as nuvens, mas dá para enxergar bem as estrelas… Por que será que elas não caem?
– Por que são muito levinhas.
– Você conhece alguma coisa que seja tão levinha assim como as estrelas?
– Claro que conheço, uma formiguinha!
– E se você colocar uma formiguinha bem no alto, ela também não vai cair, assim como as estrelas?
– Claro que vai cair, Vitória!
– Mas se ela é tão levinha como as estrelas, por que elas não caem e a formiguinha cai?
– Ah! Porque estrela é estrela e formiga é formiga! Vitória, não é a mesma coisa!
Dúvidas e incertezas são coisas de adulto!
(Diálogo registrado por Maria da Glória Seber, no livro Psicologia do Pré-escolar)
“…Por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa” Emilia Ferreiro, 1986
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